As parábolas do Reino

05-10-2020

Mesmo o mais inteligente dos homens precisa de parábolas para entender alguma coisa de Deus (Anônimo)

     O evangelista Marcos, após ter mostrado várias parábolas de Jesus, sintetiza: "[Jesus] com muitas parábolas deste tipo anunciava-lhes a Palavra conforme podiam entender. Não lhes falava sem parábolas; mas, em particular, explicava todas as coisas" (Mc 4, 33-35; Mt 13, 34-35). A indicação historicamente traduz bem a pregação de Jesus. Assim, podemos apontar algumas características das parábolas.

     Inicialmente, trazendo uma linguagem que se aproximasse das pessoas mais humildes, baseando-se no cotidiano vivido; a dona de casa que perde uma moeda e começa a procurar em todos os cantos até encontrá-la, e a festa; o pastor que perde uma ovelha, o pescador que separa os peixes bons dos não comestíveis, o pai que se preocupa com a situação dos filhos... Para trazer a mensagem onde as pessoas pudessem entender, o uso de imagens e narrações vindas das vivências da época, possibilita a comunicação da Boa Nova de modo mais claro e incisivo do que de de forma conceitual. O importante é que a narração traz o conteúdo que se quer transmitir. 

     Busca de Sentido - Deve-se notar o que acontece muitas vezes na "civilização da imagem", Jesus deixa transparente a importância de se buscar o significado da narração; há quem fale de maneira "enigmática" do Senhor, de forma que até mesmos os apóstolos pediam a Ele que explicasse melhor, e dois evangelistas chegam até mesmo a interpretar uma comparação usada por Jesus em dois sentidos diversos (Mt 12, 38-40) e Lc 11, 29-30).

     Jesus, muitas vezes, vai além da narração, convida a deixar-se questionar por ela, evitando deter-se na escuta "passiva". Quantas vezes acontece, por exemplo, de nos emocionarmos e preocuparmo-nos com a continuação da novela favorita, e não nos preocupamos com o que acontece ao nosso redor, às vezes em nossa própria família!

     Esse perigo pode ser visto na Sagrada Escritura: o rei Davi fica indignado, ao ouvir uma narração de Natan, sem perceber que o profeta está apresentando para ele, sob a forma de parábola, e sua própria ação e o seu duplo pecado. Muitas vezes precisamos que alguém nos fale, como a Davi: "És tu aquele homem, és tu aquela mulher!" (2Sm 12). No Evangelho de Lucas encontramos o fariseu Simão que, diante de uma breve narração de Jesus sobre dois devedores, considera correto, sem notar que ele mesmo está colocando "a corda no pescoço" (Lc 7, 36-50). Julgamos os outros, mas não somos capazes de aprofundar a nossa situação pessoal.

     Exortação à mudança - As parábolas exortam à mudança de mentalidade, onde deixam de ser inadmissíveis ou escandalosas: veja-se o dono da vinha que paga igualmente tanto quem trabalhou oito horas quanto quem trabalhou apenas uma hora (Mt 20, 1-16); ou administrador infiel que falsifica as contas (Lc 16, 1-8), ou a belíssima (mais desconcertantes pelos critérios humanos) figura do bom pai diante dos dois filhos. Se não criam em nós admiração e até mesmo causam mal-estar, talvez seja porque estamos muitos habituados a elas...

     Nos dias atuais, há escritores que, para terminar seus romances, trazem diversos finais, levando o leitor oportunidades de "escolher" aquele que optarem. Jesus parece ter feito algo semelhante, com um motivo diferenciado: algumas parábolas permanecem "abertas" pois apelam a liberdade humana, ou seja, à conversão. Naquela do filho pródigo (Lc 15, 11 ss.), não sabemos afinal se o filho mais velho tomou parte na festa, mas sabemos que aqueles que se identificam a ele, isto é, os ouvintes de Jesus (Lc 15, 1-2), são convidados a aceitar o amor e o perdão de Deus.

     A mesma coisa pode ser afirmado na parábola do bom samaritano (Lc 10, 29 ss.): dentre uma resposta teoricamente "correta" do doutor da Lei, Jesus convida-o a colocá-la em prática: "Vai, e tu também faze o mesmo" (v. 37).

     As parábolas são o ápice da mensagem de Jesus, mediada na maravilha do amor e da misericórdia do Pai (Abbá) para com todos. A nossa Família Dehoniana também caminha nas estradas do mundo seguindo Jesus Cristo pisando nas pegadas deixadas pelo Padre Leão Dehon. Nós somos uma família de irmãos e irmãs que tem Padre Dehon como um "pai espiritual". "Dehonianos e dehonianas" nós somos sacerdotes, religiosos, leigos e leigas, consagrados e consagradas que unimos a nossa vida à oblação reparadora de Cristo ao Pai em favor da humanidade. A trilha traçada por Padre Dehon é um modelo que inspira e que anima. Na sua vida e no seu projeto reconhecemos um homem do Coração de Jesus e do coração do povo que se tornou profeta dos novos tempos.

Nascido em La Capelle na França no dia 14 de março de 1843 e morto no dia 12 de agosto de 1925 em Bruxelas na Bélgica, Padre Dehon viveu uma longa existência consumida pelo amor ao Salvador de Coração transpassado na cruz e por seu Reino nas almas e na sociedade. Dehon contemplava no amor de Cristo que aceita a morte e se oferece em oblação a fonte da vida para toda a humanidade. No lado aberto do Crucificado Dehon via o sinal de um amor que no dom total de si recriava a humanidade dando-lhe um coração novo. A sua vida foi vivida como união permanente ao amor de Cristo e se traduziu na oblação e reparação a serviço do Reino. Neste sentido ele soube conciliar contemplação e ação, vivendo para Deus e para o povo. Centrado na vida eucarística, Dehon celebrava e adorava a Eucaristia para estar unido a Cristo e fortalecer o seu serviço ao povo. À sua Congregação ele dizia que "a vida do religioso e do sacerdote do Sagrado Coração deve ser continuação de sua missa". Esta união com Jesus que se imola sobre a cruz e sobre o altar é a fonte do serviço ao povo pobre, humilde e marginalizado. Dehon foi um verdadeiro místico que soube ser ao mesmo tempo um homem do seu tempo. Atento aos problemas sociais e aos desafios da Igreja, consciente da necessidade de uma nova postura e de novas obras para os novos tempos, ele encarnou e profetizou um novo jeito de ser Igreja com um renovado ardor porque "novas necessidades exigem procedimentos novos". "Ir ao povo" era o seu lema pastoral e renovar a Igreja para libertá-la do medo e do comodismo das sacristias era um desafio que o animava. Dehon sempre dizia como Jesus "eis-me aqui" para estar unido à sua oblação ao Pai e ajudar na construção da civilização do amor.

     "Com Dehon no seguimento a Jesus", esta é a parábola do caminho de todo dehoniano. Passo a passo, pouco a pouco, o caminho se faz num seguimento apaixonado à Pessoa de Jesus Cristo nos comprometendo com Ele por uma vida de oblação e uma missão de reparação. No caminho de Jesus encontramos o sentido da nossa existência que é iluminada pelo testemunho do nosso Fundador. Por isso continuamos a nossa jornada firmes na fé, alegres na esperança e vivendo o amor levando Cristo ao coração do mundo e trazendo o mundo ao Coração de Cristo

Adaptado: Anderson Felipe - Missionário - MDJ LAVRAS

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